Informativo: poucas empresas utilizam leis de incentivo à
inovação
Pesquisa revela que só 20% das médias empresas se valem de
algum programa de incentivo à inovação. Veja os dados
reveladores:
"Só 20% das médias empresas usam leis de incentivo à
inovação, diz estudo"
Valor Econômico - 08/06/2012
Por Arícia Martins | De São Paulo
As empresas brasileiras de médio porte desconhecem o que é
inovação e a sua importância para competir e crescer no
mercado. Pesquisa da Fundação Dom Cabral (FDC) traça um
cenário preocupante sobre o tema no país. Das 149 companhias
consultadas pelo levantamento, apenas 20% disseram fazer uso
de alguma lei ou programa de incentivo à inovação. O
resultado contrasta com avaliação feita por 71,2% dessas
mesmas empresas. Segundo elas, a inovação aparece de forma
evidente na ideologia da marca, seja como valor ou visão.
Entre as médias empresas que não usam recurso algum para
inovar, o desconhecimento de mecanismos como a Lei do Bem e
a Lei da Inovação é apontado como principal motivo para a
ausência de investimento nessa área, à frente da reprovação
de projetos e da burocracia imposta para lançar mão desses
incentivos. Acima desses dois obstáculos, as empresas
apontam como razões para não usar os estímulos disponíveis a
falta de foco no assunto e a ausência da percepção da
necessidade de usá-los.
Para a sondagem, a Dom Cabral ouviu empresas médias de todos
os setores da economia, com destaque para os serviços, que
representam metade das participantes, e para a indústria,
com 37% das respostas. Segundo o Cadastro Central de
Empresas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), relativo ao período entre 2006 e 2009, as companhias
de porte médio representam 39% das empresas de alto
crescimento no país, atrás apenas das pequenas (51,3%). Elas
também têm grande participação na geração de empregos, com
absorção, na época, de 25,9% do pessoal ocupado assalariado.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
enquadram as médias empresas na faixa de faturamento bruto
anual superior a R$ 10,5 milhões e inferior ou igual a R$ 60
milhões. Nessa classificação, é possível ter acesso a
praticamente todas as linhas das duas instituições, com
algumas restrições. Na subvenção econômica, que aplica
recursos públicos não reembolsáveis diretamente nas
empresas, o valor mínimo de um projeto a ser apresentado por
uma companhia média é de R$ 1 milhão. Essa modalidade é
usada por apenas 8,6% das empresas consultadas pela
pesquisa.
Para contar com os benefícios da Lei do Bem e da Lei da
Inovação - que permitem à empresa deduzir do cálculo do
Imposto de Renda despesas em pesquisa e desenvolvimento,
além de outros incentivos fiscais para inovar -, a companhia
precisa ser tributada pelo regime de lucro real, o que, na
maioria das vezes, não compensa para firmas pequenas e
médias.
O sistema de lucro presumido vale para empresas com
faturamento anual até R$ 48 milhões. Para estar no Simples,
a receita bruta precisa ser, no máximo, de R$ 3 milhões para
pequenas empresas. "Uma empresa pequena ou média que queira
se beneficiar dessas leis terá de analisar se vale a pena
mudar de regime", diz Pedro César da Silva, da Athros ASPR
Auditoria e Consultoria.
A falta de acesso a incentivos fiscais, no entanto, não é a
principal explicação para o desinteresse das empresas médias
na inovação, segundo Fabian Salum, coordenador do estudo da
Fundação Dom Cabral. "O empresário está focado na
sobrevivência, na geração de caixa, na entrega e
desenvolvimento de seus produtos. É uma visão de curto
prazo", avalia Salum, para quem há pouco conhecimento sobre
como usar mecanismos do governo com foco na inovação
empresarial.
Depois de três anos à frente do Centro de Referência em
Inovação Minas da Dom Cabral, o professor conta que, mesmo
com taxas de juros muito atrativas ou sem necessidade de
devolver os recursos no caso da subvenção econômica, as
empresas assistidas não participavam dos editais do Finep,
porque não eram lidos, ou simplesmente as datas das chamadas
públicas eram perdidas.
Quando os editais eram lidos, diz Salum, as empresas
questionavam a quantidade exigências feitas, como apresentar
documentos e elaborar um plano de negócios. "Com recursos
escassos, essas empresas não conseguem se dedicar a esse
tipo de trabalho, perdem a oportunidade e, como estão
olhando o curto prazo, depois não colocam do próprio bolso
para inovar".
Segundo a pesquisa, apenas 2% das empresas consultadas
investem mais de 10% da receita bruta anual em inovação e
pesquisa e desenvolvimento (P&D). Em 14% delas, nenhuma
parte do faturamento vai para essa rubrica.
Outra constatação que salta aos olhos para o professor da
FDC é o descontrole na gestão de inovação e P&D, já que 67%
das companhias ouvidas não usam indicador algum para avaliar
esse quesito dentro da empresa, como, por exemplo,
contabilizar o número de novos produtos e serviços,
pesquisas publicadas ou novas tecnologias adquiridas. Para
se destacar, diz Salum, a empresa precisa ter sistemas
eficientes de gestão de inovação.
Naercio Menezes Filho, coordenador do centro de políticas
públicas do Insper, vê como principal entrave à inovação a
cultura empresarial conservadora existente no país, e não a
falta de instrumentos públicos para incentivar o setor
privado.
O governo, por outro lado, diz o especialista, inibe a
mudança desse quadro por meio de medidas como a redução do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para
automóveis - que, além de não exigir inovação como
contrapartida das montadoras, gera mais lobbies para que
outros setores sejam favorecidos com estímulos semelhantes.
"Não é à toa que as importações estão crescendo e as
indústrias brasileiras estão perdendo mercado", argumenta
Menezes Filho”.
(Disponível em: www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica.
Publicação:08/06/2012)
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